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Sporting: Rúben Amorim deve sair? Sim

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Sporting: Rúben Amorim deve sair? Sim
Depositphotos

E lá chegou o dia em que o homem errou. Rúben Amorim. Não que a sua viagem a Londres tenha sido um verdadeiro tiro no pé (isso sim teria sido caso se quisesse ver livre do Sporting a todo o custo) mas lá que Amorim devia ter ficado por Lisboa, a mirar o Tejo, lá isso é indesmentível.

Gela o entusiasmo para que ninguém fique a voar sem sustentação. E o grupo, acima de tudo, fique sempre com os pés bem assentes na terra. Por isso, Geny Catamo até decidiu o clássico, mas para o técnico até teve jogos em que esteve bem melhor. Tal como aconteceu quando Quaresma foi o melhor em campo diante do FC Porto. Afinal de contas foi só um bom jogo e amanhã há treino. E, depois, há o raciocínio contrário: Franco Israel podia ter feito bem melhor no golo que sofreu na Reboleira. Mas, bem vistas as coisas, nem devia estar por aquela zona e, colocando a graduação certa nos óculos, esteve, isso sim, esplêndido e teria sido um verdadeiro herói se tivesse evitado o golo.

Parece forte quando estás fraco, e fraco quando estás forte. Nunca se saberá se Rúben Amorim leu “A Arte da Guerra” de Sun Tzu mas, o que é certo, é que interpreta na perfeição a sua mensagem. E a narrativa da presente temporada tem sido coerente: todos de mãos dadas para aproveitarmos a frincha deixada por um Benfica sem treinador à altura e por um FC Porto demasiado jovem e efervescente. Está ali a montanha e o caminho. Só nos falta andar e conquistar o título. Para depois termos o dito final feliz e o herói Amorim rumar a outras paragens depois de ter sido levantado em ombros no Marquês. Sobriamente embriagado em champanhe.

Disse-o após o clássico com a astúcia comunicacional que o caracteriza: “quatro pontos são apenas um dia mau”. Objetivo: reduzir os imponderáveis. Ao máximo. Se é mais provável o Sporting ser campeão do que não o ser, tal não significa que não haja espaço para o futebol fazer das suas. Assim o Benfica de Jorge Jesus perdeu o título para o FC Porto de Vítor Pereira. Cuidado e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém, e há que ter vista escanada até ao selo pontificar no canto superior direito do envelope.

Acontece que o mundo dos imponderáveis existe. E o da fantasia tornada realidade também. Imagine-se, por exemplo, que o FC Porto dá “uma malha” ao Sporting no próximo domingo e coloca a moral dos leões no fosso. Tudo corre mal quando começa a correr mal e ainda há os cabos de Chaves, Estoril e Portimonense para serem dobrados. Isto ou, por exemplo, existir uma catadupa anormal de cartões vermelhos e suspensões, ou então um camião de lesões de jogadores-chave que não estava nos planos do mais pessimista dos pessimistas.

É lógico que, em condições de normalidade, o Sporting sagrar-se-á campeão nacional e nada disto terá qualquer importância. Por isso, Rúben Amorim decidiu arriscar um pouco e analisar o que West Ham tem para lhe oferecer. O que também não deixa de ser estranho: porque Amorim não triunfou no Benfica ou no FC Porto. Triunfou, isso sim, num Sporting muito instável e que só conquistava ligas de dezanove em dezanove anos. Trouxe estabilidade e recuperou uma marca de “grande” que estava absolutamente beliscada e condicionada. Por isso, pretendentes não lhe vão faltar. E, se calhar, bem mais interessantes do que o projeto que o West Ham terá para lhe oferecer. Se há alturas em que o risco é necessário, outros há em que é apenas preciso refastelarmo-nos na cadeira e, pacientemente, aguardar.

Existe, agora, o quadro da possível continuidade como treinador do Sporting. Que poderá representar um erro. É que, narrativa lida e relida, este é o momento certo para Amorim sair em glória e rumar a outras paragens com a certeza de que o capítulo se fechou da maneira mais gloriosa possível. De outra forma, Amorim pode seguir o mesmo caminho que Fernando Santos seguiu após o euro 2016. Quando se manteve e devia ter saído. É que este filme, tão bem produzido e realizado, não tem espaço para sequelas que, a acontecerem, podem não ser tão boas e cintilantes quanto o filme original.

Até por uma questão de leitura do contexto. Dos rivais. O FC Porto tem uma equipa jovem e em profundo processo de desenvolvimento e as eleições de sábado vão trazer, pelo menos, uma definição em termos de direção e a consequente tranquilidade. No caso do Benfica, a situação também tende a melhorar: até Rui Costa já percebeu que o problema está na falta de unhas do treinador e que, com novo técnico, os encarnados terão todas as condições para render o dobro em face da inegável valia do seu plantel e também dos retoques que podem ser feitos no mercado de verão.

Por isso, a melhor opção para Amorim é mesmo sair. E em grande. E, se o fizer ajudando a direção leonina a escolher o seu sucessor e garantindo a continuidade da sua obra, tanto melhor. Para ele e para o Sporting. É certo que já diz o povo “que nunca voltes ao lugar onde foste feliz”, mas também há o reverso da medalha. “Bom filho à casa torna”. Saída harmoniosa e equilibrada, no tempo certo, poderá servir de revestimento caso as coisas corram menos bem a ambas as partes. Amorim sai e Amorim volta. Daqui por uns anos. Sem tormentas nem tempestades. Sem pazes mas sempre com o Sporting em paz. Por isso, a Rúben Amorim compete apenas seguir em frente. Com confiança. E sem voos antecipados.

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