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FC Porto: Quando todos estão certos alguém está errado

Artigo de opinião de Gil Nunes.

FC Porto: Quando todos estão certos alguém está errado
FC Porto

Luz de um lado e do outro da porta. Sem ocasos. Se a ida de Pinto da Costa para o banco na final do Jamor pode ser realmente vista com um estímulo para as tropas, a leitura inversa também é válida: mas afinal de contas o que é que Pinto da Costa está ali a fazer, tendo em linha de conta que o seu reinado já terminou? Tem ou não o FC Porto dois Presidentes?

Porque um terceiro argumento também é válido. Ou é mesmo, se calhar, o mais válido: se bem que a presença de Pinto da Costa não estorve, será que os dragões precisam mesmo dele no banco para arrancarem a vitória? Não poderia estar noutro sítio? E ainda outra leitura: independentemente da questão relacionada com a SAD, por que motivo é Pinto da Costa a decidir se vai ou não para o banco? Não há um Presidente mais alto que se alevanta, independentemente de se poder ir ou poder ficar? Sim, porque uma coisa é gerir o símbolo máximo do clube com a reverência que o próprio merece. Outra é virar a página de forma rápida e determinada.

A ida de Pinto da Costa para o banco do Jamor é um daqueles casos em que o sim atravessa todas as bancadas do Parlamento. Numa divergente convergência. Mas já o próprio nos ensinou que “largos dias têm cem anos” ou, se quisermos pegar na deixa do Presidente e chamar à cantiga Jorge Sampaio, então aí tudo faz ainda mais sentido: há mais vida para lá da Taça de Portugal. As coisas vão continuar na próxima temporada. Mas, no caso, também todos estão certos e alguém vai estar errado no meio desta história. O dia 26 de maio o dirá. Ou não.

É claro que a própria marca do clube refere que os troféus são mesmo para ganhar, independentemente do mês em questão. Agora, que a próxima temporada já começou, lá isso é verdade. Por isso, a Taça de Portugal é apenas o primeiro dia do resto da vida dos dragões. E a caminhada já vai firme. Se o profissionalismo de Sérgio Conceição é reconhecido e, como tal, o planeamento da próxima época estará definido de forma profissional e minuciosa, há que resolver com urgência o dossiê relativo ao treinador. Ou vai ou racha. Parte-se para outra. Sim, pode alegar-se que o terceiro lugar ainda não está no papo e enquanto esse Bojador não for ultrapassado, não há nada para ninguém, ainda por cima quando o avião ainda recentemente atravessou uma zona de alta turbulência. Mas tudo já se joga no tabuleiro de 2024/2025: e convém lembrar que o Sporting foi campeão depois de ter ficado em quarto lugar.

Pode argumentar-se que Sérgio Conceição era o treinador de Pinto da Costa e que o apoio ao antigo Presidente poderia representar uma espinha encravada. No caso, nada disso se passa. E por duas razões: por um lado quer AVB quer Conceição são genuinamente portistas e ambos enveredam por um discurso em que qualquer tropelia pode ser ultrapassada em prol do bem maior que é o êxito do clube. Isso e qualquer troca de mensagens mal medida com Jorge Costa. Depois, André Villas-Boas também não é propriamente parvo e, para além de reconhecer a competência do treinador, também percebe que a cobiça ao seu redor não é obra do acaso ou de troféus de circunstância. E também entende que a eventual saída de Sérgio Conceição será sempre honrosa para ambas as partes, sem que a componente financeira se sobreponha ao portismo. Sim, Conceição é racionalmente efervescente. Fala com o coração. Mas não, e nunca na vida, é uma sanguessuga tolhida pelos milhões que compram corações.

Há o “ainda assim”. Eis que chega o Milan e leva o treinador. Tudo se concretiza. Mas aqui entra em cena um desafio aliciante mas que, ao mesmo tempo, pode também ser perigoso: sim, o reforço da equipa e a sua capitalização para outros patamares competitivos pode ser um apetitoso augúrio mas, às vezes, é necessário olhar para o menu e constatar que o mesmo já está bem recheado. Ou seja, grosso modo, impõe-se como uma obrigatoriedade (leia-se sensatez) que a substituição do técnico tenha como premissa um perfil idêntico, que respeite a identidade de uma equipa tremendamente jovem, competitiva, e que está numa fase de evolução que impõe progresso e nunca revoluções abruptas. Porque quando se contrata um técnico contrata-se, sobretudo, uma ideia de jogo. E essa ideia deve ser sempre de continuidade, de retoques, e nunca de radicalismos, por muito que os mesmos possam ter êxito a longo-prazo. Villas-Boas precisa de triunfar. Aqui e agora. Sem tempo a perder.

Se o Sporting fizer a dobradinha será um fracasso para Villas-Boas? Nem por isso. O novo Presidente apanha a locomotiva em andamento e, nestas circunstâncias, há três coisas a fazer numa só: respeitar o que está bem feito e não estragar; ajustar aqui e acola conforme as necessidades; e, de forma cirúrgica, corrigir rapidamente o que está mal para impedir que o vírus se dissipe por todo o ecossistema do dragão. E ver a Supertaça como o primeiro grande troféu dos novos tempos.

Se a chave da vitória eleitoral residiu num conjunto de respostas mais lúcidas em torno das questões financeiras, o desafio de gestão é mesmo o do silêncio: que nunca mais as contas regressem às luzes da ribalta da discussão. Ou, pelo menos, que o FC Porto desacerte nas contratações porque tal faz parte da vida, mas que nenhuma maçã mal comprada e mal vendida seja o pretexto para a queda rápida numa espiral recessiva e envolta no fantasma contínuo do fair-play financeiro da UEFA. Afinal de contas, foi um fantasma do passado ou uma lenda mal contada da qual já ninguém se lembra. Saudades do futuro.

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