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SC Braga: Gverreiros escreve-se com T

Artigo de opinião de Gil Nunes.

SC Braga: Gverreiros escreve-se com T
Sporting Braga

Não há comparação entre a vitória na Taça da Liga e a vitória na Liga Portuguesa. Mas, aqui, a questão é mais de comemoração: a fina linha que cada vez menos separa o Braga dos ditos “grandes” – sendo que o Braga é já um deles – reside na memória. No registo. Na fotografia e nos vídeos de gente a celebrar na Avenida da Liberdade com o minhoto coração “gverreiro” a palpitar pelas próximas conquistas. Para agora celebrar. Para difundir e exacerbar nas redes sociais. Para mais tarde recordar. Gverreiros escreve-se com T: de títulos.

E não que o Braga-Estoril tenha sido um grande jogo. A poucos dias da gala Legião de Ouro, e na senda de que num jogo entre estas duas equipas o favoritismo estará sempre do lado do Braga, convinha não perder a final e agarrar o troféu desse por onde desse. Mais do que ganhá-la através de uma esmagadora qualidade de jogo, algo que não foi possível de se concretizar pela alta qualidade de uma equipa do Estoril de classificação enganadora e, também, pelo tal facto do Braga parecer ter jogado sempre em piso seguro, controlando de forma ponderada todas as ocorrências que pudessem acontecer na sequência do tal adversário que está em 15º lugar mas que tem um meio-campo e ataque de tarimba europeia.

É claro que nem tudo pode ser planeado. Logo a abrir a partida, Cassiano (que sacou a grande penalidade) e João Marques (que assistiu) foram ladinos na exploração de uma das fragilidades dos arsenalistas: as bolas nas costas da linha defensiva. Sobretudo se José Fonte – que não é propriamente rápido – por lá andar. O Estoril tinha a lição bem estudada mas foi traído por um momento de magia de um jogador que representa um conjunto de predicados da equipa do Braga: Ricardo Horta. Porque Horta é um dos melhores rematadores da liga portuguesa, algo que é de tremenda utilidade em vários aspetos do jogo (no golo, claro está) mas também na capacidade de fazer sair o “coelho da toca”, obrigando defesas mais baixas a subirem para bloquearem o espaço disponível. Situação que Ricardo Horta, no período pós - Bruno Fernandes, explora como nenhum outro em Portugal.

No entanto, há uma característica que distingue Horta dos demais e que fez o Benfica cobiçá-lo de forma assumida: a exploração hábil do espaço entrelinhas. Mérito de Artur Jorge, mérito de Carlos Carvalhal que o antecedeu no comando técnico. Aquela leitura de espaço que o coloca na zona de finalização um segundo antes que todos os outros algo que, num jogador com golo nos pés, é ainda mais perigoso e realçável. E que dá um jeito tremendo num contexto de seleção nacional carente dessa situação em específico, sempre assente na premissa de que Ricardo Horta dificilmente será titular mas será sempre uma das primeiras opções a ter em conta quando a frincha do risco tiver de ser explorada com mais afinco. E vem aí o europeu.

Depois, há também Horta e o fator x. O fator que extravasa a dimensão específica do jogo. Trata-se do melhor marcador de sempre do clube e que carrega consigo o colar emocional de quem necessita de símbolos que se juntem aos títulos. Ou seja, num raciocínio mais especulativo, Horta estará para o Braga como João Pinto para o FC Porto ou então Chalana para o Benfica. Aquele que, por si, vende mais camisolas que todos os outros. E aquele que, também por si, mobiliza os jovens em torno do clube e da sua representatividade. Isto sobretudo num clube que aposta de forma firme na formação e que apresenta uma estratégia de longo-prazo que culminará na conquista do título. Toda a gente já percebeu que o Braga será campeão português. Só ainda ninguém sabe é quando.

Ainda na narrativa do jogo, a aposta do Braga recaiu também na conquista da profundidade, com Ruiz e Djaló a assumirem lugar de destaque nessa ponta do novelo. Isto num miolo bem dotado do ponto de vista técnico (Carvalho-Moutinho), com Zalazar naturalmente a fugir para zonas mais altas com o intuito de explorar quer a sua capacidade técnica quer a sua apetência para a progressão com bola.

Se a batalha do miolo foi ligeira mas não excentricamente favorável aos arsenalistas, há que recomendar a qualidade encontrada do outro lado. E em específico num jogador – Koba Koindredi – que parece ter sido mandado fazer no alfaiate por Rúben Amorim: desde logo pelo facto de ser esquerdino, algo que o técnico do Sporting aprecia de sobremaneira; depois, a apresentação de atributos em termos do controlo de ritmos de jogo, uma carência que se torna mais saliente quando Morita não está; e, por último, aquela ideia de margem de progressão que o colocará, taticamente, em zonas mais altas e, economicamente, com um valor de mercado ainda mais robusto.

Se o Estoril parece negar-se diante de equipas mais pequenas e multiplicar-se quando o opositor apresenta mais argumentos, a questão passa agora por se restabelecerem os eixos de equilíbrio e fazer a normalidade fluir. É que seria quase um crime de “lesa-pátria” ver uma equipa desta qualidade (leia-se qualidade europeia) a ter no horizonte um cenário de descida de divisão. O rio da antítese da tudo, ou da deturpação de um cenário que, em condições normais, deveria ser pintado a amarelo tranquilo.

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